segunda-feira, 14 de novembro de 2011

feriado no metrô

Era o sino da igreja. O barulho dentro da estação de trens vinha do sino anunciando o meio-dia. Um dia escuro e úmido. De pessoas vestidas com desleixo e panos compridos. De passos sem muita pressa. Já era meio-dia, correr não servia mais. Sentado no banco, o homem carrega aquele maço de flores muito vermelhas. Flores gordas e inchadas. A voz mecânica dentro do trem anunciava a parada seguinte. Ele se levantou. E só então deu para ver o cansaço. O corpo mole, caindo sobre si, escorava-se à porta de vidro. O suor a descer espesso pelo pescoço ignorava o frio. O ramalhete em cor pendia das mãos. Mole também.
Talvez ele tivesse bebido a noite inteira. Ou não tivesse conseguido dormir. E aí teria ido ao bar logo cedo. Pedido qualquer coisa forte que lhe tirasse o peso. Pensado na ideia de lhe levar rosas entumescidas. O arranjo ajeitado com papel, as folhas a encobrir qualquer falta, qualquer espaço vazio. Era como um bicho morto que embalava nos braços. Arrastado por muitos anos, um cadáver que ele poderia trocar por um pouco de paz. Planejara tudo: Estenderia os braços para a entrega e falaria de beleza quando ela lhe sorrisse e sorriria. Quando a porta abriu, ele deu só cinco passos curtos. Descobriu sem espanto a estação central. O vermelho pálido dos tijolos, o encarnado gritante nas mãos. A morte que não se dá de presente.