quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

lições de Mencken

"A monogamia, em suma, mata a paixão _ e a paixão é o mais perigoso de todos os inimigos da suposta civilização, a qual é baseada na ordem, no decoro, na repressão, na formalidade, no trabalho e na disciplina.
O homem civilizado _ o homem civilizado ideal_ é aquele que nunca sacrifica a segurança dos seus por paixões particulares."

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

a velha senhora passeia desacompanhada pela Barão de Itapetininga

As obrigações de ocasião não deixam tempo para flanar pela cidade, andar a esmo pelos lugares que gosta e traz presos à memória. São pequenos cantos de pequenas ruas, são esquinas e praças e vitrinas. São pedaços tão vivos na lembrança que daria mesmo para esquecer que não passava por ali fazia uns tantos anos.
Descobre que ainda há engraxates no centro da cidade. E ambulantes a vender quinquilharias. Há mulheres, de unhas longas e vermelhas, que fumam recostadas no poste, alheias. E pedras, que desde sempre estão soltas na calçada para gente tropeçar. Dentro da galeria, no fundo de um corredor, a velha livraria também persiste. Os títulos nas lombadas dos livros, todos em francês. O chão róseo de mármore.
E deixa de andar um instante para tentar imaginar que impressão teria agora se olhasse tudo pela primeira vez, se aquela visão não estive impregnada a tantas outras, perdidas no tempo. Se aquelas não fossem as ruas em que foi feliz com ele. As ruas nas quais foi igualmente infeliz, com e sem ele.

domingo, 3 de janeiro de 2010

inútil paisagem

Talvez, se não fosse tempo de festas, a gente teria vergonha de confessar que perde horas vendo o mundo da janela, que acha bonito ficar espiando a poeira cobrir os móveis, o gelo derreter dentro do copo. Que fica pensando que só se está só ou acompanhado dentro de si mesmo.

Chovia no dia primeiro. E eu, da janela do apartamento, via que eles caminhavam. Andavam lado a lado na calçada. Ela, na parte de dentro; ele, rente ao meio-fio. Como deve ser, como um homem e uma mulher estão destinados a caminhar desde tempos imemoriais. Era uma tarde escura. A chuva não era fina nem espessa, eles não tinham pressa, mas também não vagavam sem destino. Ou será que alguém ainda sai para passear na chuva?

Eles simplesmente andavam. Sem os braços dados, sem as mãos apegadas, sem falar. Eram dois, protegidos cada qual pelo seu guarda-chuva. Um homem e uma mulher que sabiam caminhar, que não se olhavam durante o trajeto, que não se tocavam, mas que pareciam estar seguindo, naquele primeiro dia do ano, em uma mesma direção.