Talvez, se não fosse tempo de festas, a gente teria vergonha de confessar que perde horas vendo o mundo da janela, que acha bonito ficar espiando a poeira cobrir os móveis, o gelo derreter dentro do copo. Que fica pensando que só se está só ou acompanhado dentro de si mesmo.
Chovia no dia primeiro. E eu, da janela do apartamento, via que eles caminhavam. Andavam lado a lado na calçada. Ela, na parte de dentro; ele, rente ao meio-fio. Como deve ser, como um homem e uma mulher estão destinados a caminhar desde tempos imemoriais. Era uma tarde escura. A chuva não era fina nem espessa, eles não tinham pressa, mas também não vagavam sem destino. Ou será que alguém ainda sai para passear na chuva?
Eles simplesmente andavam. Sem os braços dados, sem as mãos apegadas, sem falar. Eram dois, protegidos cada qual pelo seu guarda-chuva. Um homem e uma mulher que sabiam caminhar, que não se olhavam durante o trajeto, que não se tocavam, mas que pareciam estar seguindo, naquele primeiro dia do ano, em uma mesma direção.
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