sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

de novo

O ano acaba hoje. Logo mais. Tomei café na padaria só para fazer de conta que era um dia diferente. Para usar o chapéu novo. Para andar ao sol. Depois, peguei um táxi para vir trabalhar. Porque era dia de pequenos luxos, pequenos mimos, pequenos e frágeis consolos pelo ano que termina. Amanhã tudo será igual. Mas a gente finge que não. Que tudo termina e começa de novo. Acredita que é possível esquecer. E continuar. Sem endurecer, sem secar.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

da aprendizagem sem o livro dos prazeres

Um dia a gente acorda e percebe tudo que não vai aprender nunca. Se não foi até agora, não será. Não será mais. Você não vai dançar. Nem aprender a falar sem mover as mãos. Nem mentir sem sofrer. Um dia você acorda e percebe que não tem importância. Que pode continuar só ouvindo a música. Que pode balançar os braços e que o estranho seria deixá-los imóveis. Que pode mentir e pode sofrer. E não mentir, e sofrer também.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

as flores da tarde

Disse para o carro parar. Porque queria descer ali mesmo. Para andar nas alamedas do cemitério e ver as flores nas bancas. Encher os braços com ramalhetes imensos e desajeitados. Sentir o cheiro dos crisântemos. Cheiro de morte. Sentar num banco de cimento quente e esperar a chuva lavar o ano.