quinta-feira, 19 de março de 2009

da sapiência de floriano peixoto

Logo agora pela manhã, dentro do ônibus, pensei no iminente e inevitável fim deste correio.
Porque, afinal, é um tanto esquizofrênica essa história de ter um blog. E eu fico tentando dizer tudo de uma forma cifrada, para não parecer ridícula ao extremo... mas creio que só consigo parecer incompreensível e, ainda assim, ridícula.

No início, quando me pus a escrever aqui, só queria um espaço que me criasse uma sensação de obrigação, que me forçasse a escrever _uma impressão aqui, outra ali_ sobre as peças todas que acabo assistindo por dever do ofício.
O fato é que nunca escrevi uma palavra sobre teatro. Tenho uma inaptidão congênita para o elogio... e sei lá se posso sair escrevendo por aí todos os meus vitupérios. E se alguém descobre e me despede? E se algum diretor raivoso escreve para me delatar?
Posso fechar o correio e abrir finalmente a gazeta do horror. Mas, como diria Floriano Peixoto, melhor dormir uma noite sobre os acontecimentos.

quinta-feira, 12 de março de 2009

como ela

Finalmente instalei a tal internet rápida. Pode parecer trivial, mas me parece muita modernidade. Um jeito a mais de desperdiçar o tempo nas noites de insônia.
Ontem não pude dormir. Senti frio, calor, frio. Descobria os pés, cobria a cabeça. Do jeito que ele sempre me disse que eu fazia.
Peguei no livro antes do dormir. E me distraí pensando na última vez em que a vi. No domingo ensolarado, logo depois de passar diante do mar. Os olhos fechados, o rosto magro, irreconhecível quase. A mão franzida de um jeito, o punho cerrado, como se os dedos estivessem todos colados. Tive saudade e medo. Remorso por desejar fugir. E me senti patética por querer chorar. Não podia chorar. Seria ser tão fraca quanto ela.

segunda-feira, 2 de março de 2009

passeio

A falta de inspiração me joga de volta ao velho mal-estar. A página em branco e aquela certeza triste de não ter o que dizer e de não saber as palavras mesmo para falar das coisas mais simples, aquelas que poderiam fazer algum sentido.
Gosto de andar de carro e ficar vendo tudo passar pela janela, emoldurado. Sentada no banco de trás, assistindo alheia como, afinal, as coisas no mundo acontecem. Aquela mesma fragilidade infantil que insiste em não passar, aquele mesmo medo antigo. Enquanto tudo desfilava diante da janela, pouco depois de uma curva, lembrei-me de um domingo distante. Sentada num canto da varanda, com o caderno amassado nas mãos. E foi a primeira vez em que o desamparo me surgiu como uma condição da qual não conseguiria me livrar com o passar dos anos, em que todas as histórias inventadas, aquelas de ilhas perdidas e navios naufragados (de que a vovó gostava tanto), me pareceram irremediavelmente tolas e desinteressantes.