segunda-feira, 2 de março de 2009

passeio

A falta de inspiração me joga de volta ao velho mal-estar. A página em branco e aquela certeza triste de não ter o que dizer e de não saber as palavras mesmo para falar das coisas mais simples, aquelas que poderiam fazer algum sentido.
Gosto de andar de carro e ficar vendo tudo passar pela janela, emoldurado. Sentada no banco de trás, assistindo alheia como, afinal, as coisas no mundo acontecem. Aquela mesma fragilidade infantil que insiste em não passar, aquele mesmo medo antigo. Enquanto tudo desfilava diante da janela, pouco depois de uma curva, lembrei-me de um domingo distante. Sentada num canto da varanda, com o caderno amassado nas mãos. E foi a primeira vez em que o desamparo me surgiu como uma condição da qual não conseguiria me livrar com o passar dos anos, em que todas as histórias inventadas, aquelas de ilhas perdidas e navios naufragados (de que a vovó gostava tanto), me pareceram irremediavelmente tolas e desinteressantes.

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