Qualquer idiota de plantão tem prontas as suas opiniões sobre Nelson Rodrigues. E, mesmo quem assente em despejar muxoxos elogiosos ao seu teatro, não tarda a sacar do bolso do colete, como se tivesse ficado muito tempo a matutar, a originalíssima pecha de "reacionário". Sim, porque é mais fácil ir no vai da valsa e colocar o autor no baú dos "ultrapassados".
Uma matéria no jornal de hoje traz a voz dissonante de Luis Augusto Fischer. Quem abrir o "Óbvio Ululante", "A Menina sem Estrela", "O Reacionário - memórias e confissões" e, especialmente, "A Cabra Vadia" não encontrará o tão alardeado ultraconservador, mas um pensador que ousa lucubrar para além do senso comum, que se arrisca a exagerar nos matizes para levantar outras questões, outras verdades. Que não saca as armas contra os inimigos óbvios. Prefere falar das incoerências de Vianinha, de Dom Hélder, de Ferreira Gullar.
E, 40 anos depois, os jornais continuam a circular com um repertório inesgotável de opiniões emboloradas, de argumentos enlatados, de embalagens perfumadas para ideias sem nexo.
"A opinião deixou de ser um ato pessoal, uma posição solitária, um gesto de orgulho e desafio. há sujeitos que nascem, envelhecem e morrem sem ter jamais ousado um raciocínio próprio. Há toda uma massa de frases feitas, de sentimentos feitos, de ódios feitos".
sábado, 28 de novembro de 2009
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
na estrada
Minha saudade é uma fraude. Evoco um passado inventado, edulcorado, coberto de tons e matizes que eu inventei. Não sei as palavras que queria e sinto tudo como se uma névoa espessa me cobrisse. A lembrança de uma estrada empoeirada em uma tarde de sol, uma tarde coberta de tédio, me é mais cara do que tantos afetos e tantas coisas que foram ditas e vividas. Naquela tarde, enquanto o ônibus seguia, todos dormiam e eu estava sozinha, olhando a paisagem seca passar. Não sei ser só. Não sei estar com niguém sem não me sentir uma falsificação de mim.
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