quinta-feira, 11 de novembro de 2010
do perigo dos postes
Era só evitar aquele poste, daquela rua. No mais, estava tudo bem. Tudo bem, ela repetia religiosamente todas as manhãs. E suspirava aliviada sempre que lembrava que estava quase esquecendo. Quase esquecendo. Não devia se demorar muito no banho, nem abrir as gavetas onde deixava guardado ainda o pouco que não conseguiu jogar fora. Se tivesse esses cuidados, podia viver como antes. Podia ao menos deixar de lembrar. Era só evitar o poste. Só aquele poste, daquela rua. Lá, a mulher brincou com o bebê. Brincou de esconder-se. Sorriu. Era jovem naquele dia. Muito jovem. E ali foi feliz pela última vez. Escondida atrás de um poste baldio, de uma rua sem importância.
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