quinta-feira, 27 de agosto de 2009

no caderno

"A memória acredita antes de o conhecimento lembrar."

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

véspera da primavera

À beira da porta da igreja da Boa Morte, o céu ficou momentaneamente azul para depois escurecer de novo. Passava um pouco das 8 da manhã e já estava na rua do Carmo.
Queria ter morado ali, pensei enquanto andava pela calçada. Viver em algum daqueles velhos casarões, ficar sentada na varanda vendo tudo passar mais devagar.
Depois, almoço na Castelões. Fotografias em preto-e-branco nas paredes. Canoli siciliano de sobremesa.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

matemática

Dançar "Moon River" de manhã na cozinha leva anos.
Pelo menos três de análise.
Mais dez de conversas com o Luís ao telefone.
E outros quatro perdidos em banhos quentes longíssimos durante as madrugadas.

sábado, 15 de agosto de 2009

conversa de botequim

Antunes tinha um lenço no pescoço. E aquela mesma jaqueta jeans que ele está sempre a usar. Não quis entrar no palco. Chamado, acenou para a plateia e saiu. Como deve ser.
Talvez "A Falecida Vapt Vupt", que ele estreou ontem no Sesc Consolação, não faça sombra ao "Paraíso Zona Norte", montagem de 1989 que eu não tive a sorte de ver. Talvez. Mas foi uma felicidade ver o caixão sonhado por Zulmira atravessando o alarido do botequim, que toma ininterruptamente a cena. E outra alegria ouvir Nelson _ não aquele trágico de "Senhora dos Afogados", mas o Nelson suburbano da Aldeia Campista_ na boca de Lee Thalor.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

notícia de jornal

Um dia glorioso. Logo pela manhã, uma jovem cantora cubana, Liena Centeno, alegrou o meu banho. As canções são antigas, dos anos 30 e 40, mas os arranjos novíssimos, elegantes, delicados. No caminho habitual, rumo ao batente, deparei-me com gordas jabuticabas na feira e um balde cheio de lisanthus brancos, flores que, apesar do nome esdruxúlo, ainda são as minhas preferidas.
Ah, e no jornal de hoje despontam notícias alvissareiras para novos e velhos bêbedos. Aquelas pesquisas que estão sempre a pregar as benesses da atividade física e do consumo de legumes, agora garantem que não existe nada melhor do que vinho. Está lá na página C9 da Folha. Eu sei, eu sei que eles já diziam que um vinhozinho de vez em quando ajudava, mas finalmente resolveram contar toda a verdade. Sim, quem bebe vive mais do quem come frutas, baniu o açúcar ou sai correndo desesperadamente por aí naqueles trajes ridículos de exercícios. Pelo menos cinco doses por semana, senhores. E eu pretendo começar já a minha dieta da juventude.

sábado, 8 de agosto de 2009

claridade

É uma manhã muito clara. Tão clara como me agrada que sejam as manhãs. Todo o verde da árvore é simples e a luz que toma a casa me dá ânimo para repetir que está tudo bem, que até aqui, está tudo bem. Dormi um sono inquieto. Com muitos copos de água para acalmar a sede da noite inteira. Um gosto de sal, uma ansiedade que me faz retorcer as mãos e não saber se está frio ou calor embaixo dos lençóis. Às vezes, sinto-me muito só. Sem vontade de amanhã, sem lembranças que me façam companhia, com um desejo de que nada aconteça. Bastava a manhã, o sol, a música. Nada dessa ânsia um tanto tola por entendimento, dessa tentativa de devassar o avesso, de se mostrar para além da pele, do corpo. Que mal há em não ser nunca descoberto? Se posso ficar em silêncio e crer no meu mistério. E chega, que já me confessei demais.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

inferno astral - capítulo 2

e, acho que para me animar, ela me disse depois de ler a postagem de hoje_ você nunca será muito feia e muito pobre. Tirem suas conclusões, senhores.

inferno astral - capítulo 1

Você tem 28 anos? Mantenha-se sempre jovem.
À procura de um marido? Encontre-o já.
Aumente sua renda!

Ao abrir a caixa de emails esta manhã deparei-me com esses três amistosos anúncios publicitários_ prenúncios do meu inferno astral aberto oficialmente neste 4 de agosto.

Sim, descobrem a sua idade e lhe dão os caminhos para uma "vida feliz". Essa angústia essencial, o seu descompasso com o mundo? Ah, o sentido da ação política, a utilidade da arte? O tédio, o desgosto de não saber fazer nada, o cansaço com os dias, o cansaço de todas as espécies? O peso de sentir. A banalidade do amor. A impiedade do tempo. Deixe isso para lá dizem os reclames da maturidade. É preciso agir se não quiser atravessar a velhice muito feia, muito só e muito pobre.

sábado, 1 de agosto de 2009

questões da primavera

não se pode dizer que este seja um dos momentos mais alvissareiros dessa minha nada enfadonha existência, mas, estimados leitores, não é sempre que se faz vinte anos pela última vez. Eu, aliás, nunca acreditei que fosse passar por isso. E, de repente, cá estamos. Sem o frescor da juventude, sem a segurança da maturidade (o que quer dizer que continuo tão pobre e tola como há dez anos)
Enfim, todo esse prólogo para falar das festividades do 4 de setembro deste 2009. Como minhas férias foram canceladas e adiadas, deixei de lado os roteiros de Braga e das queijadas de Belém e dedico minhas horas de insônia ao menu do grande dia. Velhice em grande estilo. Decidi-me pela torta capixaba, que segue em fase de testes no longínquo solar dos Figueiredo de Menezes. Recebi ontem a primeira remessa. Uns ajustes aqui e ali e sairá a contento. A dúvida agora é o segundo prato _debato-me entre o bobó de camarão e a frigideira de siri.