quarta-feira, 22 de outubro de 2008

cartas

Passei a acreditar (ou fingir que acredito) que Rilke me salvou do ridículo das pretensões literárias. Nunca apreciei realmente nada do que escrevi. Meu pendor para ficção é nulo (não consigo sair de mim), os poemas sempre me soaram canhestros, desajeitados.
A livraria ficava em uma travessa da Champagnat, acho que era Antônio Ataíde o nome da rua. Os livros estavam em liquidação e saí de lá com uma seleta de poemas do Shakespeare, o quarto volume do Proust, "Sodoma e Gomorra" (nunca entendi por que começar pelo quarto volume...) e as tais "Cartas a um Jovem Poeta".
Já na primeira carta, uma frase provocou-me um dos aqueles assombros irremediáveis e, desde então me persegue, retornando como um fantasma, de quando em quando.
"Uma obra de arte é boa quando nasceu por necessidade. Neste caráter de origem está o seu critério - o único existente".
A constatação de que nunca precisei escrever, assim como nunca tive verdadeira necessidade de nada _uma pessoa, um gesto, uma sensação_ passou a me assombrar. E vivo a maldizer essa impressão de ser capaz de sobreviver. De continuar. Não importa se mais ou menos feliz, mas, de qualquer maneira, imune a todas as perdas.

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