domingo, 26 de outubro de 2008

perda

Cinza. Chovia e ela se cansou de andar, passou o dia a se sentir culpada pelo tédio que não deveria estar ali, a lhe turvar as sensações, a atrapalhar as emoções que, sim, ela deveria sentir. Ao ter diante de si tantos quadros que amava, tantas cores e traços, esteve desnorteada. Queria ser capaz de sentir mais, de ver mais. A vida, no entanto, estava lá para deixar nítida sua incapacidade, a falta de jeito para o amor, das coisas e das pessoas. Só despertou da anestesia quando atravessou a ponte. Estava ali, bem no meio do caminho, quando o sol abriu. As águas pardas ganharam certo tom de verde, e ela pensou na beleza inteira que cabia na palavra "rio". Ao longe, uma cúpula dourada, que esteve apagada durante todo o dia, ganhava luz própria, e compunha a paisagem. As folhas, amarelas, vermelhas e verdes, surgiam ressaltadas em suas cores. Uma vez mais, contudo, ela teve medo de perder, e não foi capaz de esquecer de si. O sol iria embora, o momento iria se misturar a tantos outros momentos indistintos, mas ela não sabia o que ver, não sabia o que guardar.

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