quinta-feira, 23 de outubro de 2008

do colégio

Não consigo escapar do passado e daquela carteira escolar. Como se desde então eu estive sem lugar. Uma manhã de 1994, eu acho. Tínhamos que ler os dois poemas e não sei ao certo por que me lembro deles de quando em quando.

"se ao menos esta dor servisse
se ela batesse nas paredes
abrisse portas
falasse
se ela cantasse
e despenteasse os cabelos
se ao menos esta dor se visse
se ela saltasse fora da garganta como um grito
caísse da janela fizesse barulho morresse
se a dor fosse um pedaço de pão duro
que a gente pudesse engolir com força
depois cuspir a saliva fora
sujar a rua os carros o espaço o outro
esse outro escuro que passa indiferente
e que não sofre tem o direito de não sofrer
se a dor fosse só a carne do dedo
que se esfrega na parede de pedra para doer
doer doer visível
doer penalizante
doer com lágrimas
se ao menos esta dor sangrasse"


"Chora de manso e no íntimo... procura
curtir sem queixa o mal que te crucia:
O mundo é sem piedade e até riria
Da tua inconsolável amargura.
Só a dor enobrece e é grande e é pura.
Aprende a amá-la que a amarás um dia.
Então ela será tua alegria,
E será ela só tua ventura...
A vida é vã como a sombra que passa
Sofre sereno e de alma sombranceira
Sem um grito sequer tua desgraça.
Encerra em ti tua tristeza inteira
E pede humildemente a Deus que a faça
Tua doce e constante companheira..."

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